quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vício em Pornografia






Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com
nomes, pessoas, fato ou situações reais terá
sido mera coincidência.



É isso que costuma aparecer no final dos créditos das vinhetas de abertura das novelas veiculadas pela Globo. E nos faz acreditar que ora a arte imita a vida ora a vida imita a arte.


Até que ponto aquilo que mostram nas novelas pode ser a realidade de alguém fora das telas dos aparelhos de TV?


Tem despertado a curiosidade de muita gente o segredo que tenta esconder o personagem Gerson Gouvea, interpretado pelo ator Marcelo Antony, da novela Passione. E é em virtude desse segredo, recentemente revelado, que estou postando aqui esse texto.

Em agosto desse ano de 2010, eu enviei ao programa Fantástico da Rede Globo - e para programas de outros  canais televisivos - uma sugestão de reportagem que tratasse sobre um desvio comportamental que tem se tornado muito comum: o Vício em Pornografia. Tudo que obtive como resposta foi um e-mail agradecendo a minha atitude.

Como todo brasileiro, pelo menos de vez em quando, eu perco meu tempo vendo alguma cena de novela. Portanto, eu conheço a existência do personagem Gerson e seu drama. Em virtude de ser um tema bastante polêmico na atualidade, suspeitava-se que esse segredo fosse Pedofilia. O fato de não ser, não torna menor o problema. Muito pelo contrário.


Existe um desvio comportamental chamado VÍCIO EM PORNOGRAFIA afetando a vida de muitas pessoas e infelizmente não se fala no assunto. Talvez pelo constrangimento nele imbutido. Vidas se perdem, relacionamentos se desfazem porque, quem sofre do mal, não encontra alternativa para livrar-se dele. Principalmente porque o principal afetado dificilmente admite o problema. Quem acredita tratar-se de uma coisa à toa, engana-se por total ignorância sobre o assunto e suas consequências.


Em meados de 2009 eu havia me apaixonado e estava vivendo um relacionamento com um homem com desvio comportamental de ordem sexual. E ter vivido na pele esse problema não foi nada fácil. A existência da doença foi percebida por mim em torno do quarto mês de relacionamento, o qual terminou cerca de 1 ano após haver sido iniciado.

Talvez esse seja um problema que não possa ser conjugado no passado, pois, apesar do relacionamento haver terminado, ele certamente ainda sofre do mesmo mal. E, como todo vício, este também não afeta só o viciado, mas  também a todos que estão ao seu redor. E, como todo viciado, o viciado em pornografia também nunca está disposto a admitir o que faz e muito menos que precisa de ajuda.

O Vício em Pornografia é uma subcategoria do vício sexual. Nele o foco principal é literatura e imagens pornográficas. Vício de pornografia também é conhecido como um vício "comportamental", onde o sentimento de euforia surge dos químicos liberados no cérebro, ao invés de uma fonte externa como drogas e álcool.

A mente gradualmente se acostuma com a liberação desses químicos e passa a procurar por novas fontes de euforia. Para o viciado em pornografia, essa euforia surge da visualização de revistas, filmes, livros e sites pornográficos da internet, a maioria contendo fotos e vídeos amadores que expõem as cenas mais grotescas que se pode imaginar. Esse estímulo é quase sempre, mas nem sempre, acompanhado por masturbação.

Assim como acontece com o vício sexual, a dependência de pornografia raramente é causada por apenas um fator; é mais provável que ela seja causada por várias condições criadas ao longo do tempo. Essas causas podem incluir a exposição a imagens pornográficas ainda na infância, profunda insegurança e/ou medo de rejeição em relacionamentos, ou um trauma físico ou sexual que aconteceu no passado.

Além dessas causas, o vício de pornografia alimenta-se de si mesmo e tem uma natureza progressiva. Uma pessoa pode deixar de sensibilizar-se com certas imagens e começar a procurar por novas imagens, que precisam ser cada vez mais absurdas. Além disso, uma vez que certa pessoa expõe-se a  representações mais gráficas da atividade sexual, a nudez simples já não é tão excitante. Em alguns casos, esta progressão na atividade pornográfica pode levar a atividades ilegais, de pornografia violenta à pornografia infantil.

O problema com a pornografia é em grande parte um problema de percepção alterada. A exposição contínua à pornografia altera o ponto de vista que o usuário possui das pessoas à sua volta. Homens que usam pornografia tendem a ver as mulheres como objetos sexuais, e não como pessoas valiosas a serem honradas e respeitadas.

Pois bem... Quero deixar bastante claro que eu não estou aqui apregoando santidade. Mas não há como discordar que "tudo que é demais sobra". O vício, seja ele no que for, só emburrece. A ponto do viciado nem perceber o mal que está fazendo a si mesmo e aos que o amam. Nesse exato momento, devem existir centenas de mulheres dormindo sozinhas enquanto seus maridos estão com a cara grudada na tela de um computador tentando se excitar com uma mulher transando com um porco, seja para terminar a masturbação, seja para conseguir ter uma relação sexual com a parceira.

Enquanto alguns culpam a revolução sexual pela perda da moral, o que vejo com o advento da Internet é um aumento de disponibilidade e acessibilidade à pornografia, acompanhado de um senso de falta de vergonha.

Antigamente tínhamos que ir até as bancas de revistas e estar dispostos a ser vistos comprando o material que iríamos manusear. Agora é quase um anonimato garantido. Não é preciso mais exposição de si mesmo, pornografia não é mais disponível e sim invasiva.

Homens viciados em pornografia, na maioria dos casos, não conseguem mais manter uma relação sexual normal (ainda que seja algo mais apimentado com alguém atraente), a não ser com ajuda de medicamentos. E o que ainda torna pior a situação: como qualquer viciado, não admitem o problema, têm crise de abstinência e ficam agressivos quando tentamos argumentar com eles ou quando ficam sem acesso ao objeto do vício.

Acredito que a Internet seja útil para uma infinidade de assuntos, mas, como tudo na vida, também tem dois lados. E infelizmente, hoje em dia, é uma das maiores causas dessa desgraça que está mais presente em nossas vidas do que podemos imaginar.

Essa é uma doença que sustenta outras: o viciado em pornografia que procura incessantemente por materiais postados na rede virtual por outros também doentes, também viciados  em pornografia, fetiches macabros, exibicionismos absurdos, em busca de quem queira consumir aquilo que produzem.

As pessoas afetadas por esse mal chegam ao ponto de não dormir, deixar a companhia de suas namoradas ou esposas, dos familiares, dos amigos, da vida social enfim, apenas para ficar horas e horas diante de um computador em busca das imagens mais macabras envolvendo sexo (e sempre sexo sujo) para que possam ter excitação sexual.

Em virtude disso, acabam por adquirir outros vícios (álcool, cigarro, substâncias que os mantenham acordados) apenas para que possam continuar alimentando seu vício maior. Acabam adoecendo, ficando relapsos em seus trabalhos (não rendem por cansaço, já que dormem pouco e muitas vezes faltam ao emprego por não conseguirem se manter acordados durante o dia, já que a maioria usa as madrugadas para isso, um horário em que não trabalham e todos da casa estão dormindo e, claro, supostamente um horário em que a conexão está mais rápida e isso facilita o download dos vídeos e fotos), acabam perdendo amigos, ficando solitários, agressivos e impotentes sexualmente.

Eu não sou uma pessoa excessivamente religiosa - na verdade, nem religiosa chego a ser já que nem sequer tenho religião - e não tenho como finalidade pregar puritanismo ou nada do gênero. Mas acredito em limites para tudo nesta vida.


Sou alguém que sofreu as consequências por ter vivido um relacionamento com um homem portador desse desvio comportamental, portanto preocupada com o fato disto ser algo tão nocivo e infelizmente não ser tratado, nem buscado nem pesquisado pela mídia.


É necessário quebrar mais esse tabu. Sei que é um assunto constrangedor, mas precisa ser estudado, esclarecido. É urgente que os meios de comunicação ofereçam às pessoas um meio de lidar com isso, pois eu já tentei encontrar ajuda e não consegui. Não encontro nem literatura da área de Psicologia ou Psiquiatria, nem sites, nada que fale sobre o assunto.


Tratar disso seria um serviço de utilidade pública.



14 comentários:

  1. Imaginei que novamente você apareceria antes de todos. Obrigada pelo elogio.

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  2. Belo relato Alê. Eu até chegaria ao ponto de dizer que isso é um caso de saúe pública. Assim como as pessoas viciadas em jogos que além de prejudicarem a si mesmas, prejudicam seus entes e conhecidos. Assim como a anorexia, os consumidores compulsivos. Todos precisam de ajuda, mas primeiro as próprias pessoas tem que ter consciência de seu problema, o que é mais difícil...

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  3. Obrigada pelo apoio, Renan.
    Sim, existem centenas de desvios, não apenas os de ordem sexual. São assuntos pouco discutidos, as pessoas simplesmente fecham os olhos e não admitem que existe, ou, o que é muito pior, banalizam. Com a banalização, cai-se na ilusão de que tudo é normal. É a degradação humana.

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  4. Sim ... uma tendencia caótica que caminha desprovida deconsciência,bom senso,etc,etc...
    Passando aqui...para deixar-te um alô...

    Ah, passe aqui,e vote(o7/09-'yo')

    http://vinhosemaisvinhos.blogspot.com/2010/11/concurso-fotografico-voce-e-o-vinho_29.html

    bjo,Alê

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  5. Oi, Nádia.
    Obrigada pela visita.
    Vou passar sim.
    Beijos.

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  6. Oi Ale, li seu texto e já havia me deparado com esse problema. Acredito que a carência seja o estopim dos vícios, pornográficos ou não, maléficos ou benéficos. Minha mãe, carente ao extremo, era viciada em trico e croche. Conheço outros casos de carência que acabam por virar em vício, conheço um caso de uma moça que ficou viciada no trabalho dela e teve de ser tratada pois chegou ao ponto de se recusar a ir para casa. Um outro caso é de uma amiga de minha mãe que acordava no meio da noite para limpar a casa. Me separei por ter minha esposa compulsão por bingo, gastava o que tinha e o que não tinha, quase perdi minha casa. Hoje vivemos na era eletronica virtual e isso facilita a proliferação de vicios, os mais estapafurdios possível. Até eu acho que tenho alguma coisa "anormal", apesar de me policiar constantemente.
    Bom, para concluir, nossa mente é um ninho de informações e por álgum motivo, ela cria manobras de escape que acabam virando vício, certas pessoas tem o poder de se controlar, outras, acho que por serem mais fracas, não tem esse poder, dai o auxilio profissional.
    Está lançada a polêmica, adoraria ver isso no JoSoares.

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  7. Mário... como vai, querido?
    Bom vê-lo por aqui.
    Sim, é verdade: os vícios são inúmeros. Eu também, por carência, depressão, já fui viciada em limpar a casa. Enquanto tinha a desculpa de me prender a ela, não precisava enfrentar meus medos nem o mundo lá fora. Conheço pessoas que, também por algum motivo emocional, dedicam-se excessivamente ao trabalho.
    Quanto a sermos ou não normais: acredito que todos tenhamos nossas patologias. Alguns menos e outros, infelizmente, muito mais.
    Quanto ao Jô Soares... KKKKKKK!!! Ô quem deeeera... rsrs.
    Beijos a você e à família. Mais uma vez obrigada pelo carinho.
    E... fica aí a polêmica.

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  8. Sou casada há 2 anos,com uma pessoa que namorei há 10 anos antes do casamento. Sempre soube que ele buscava pornografia na internet,mas imaginava ser algo normal... hoje,após apenas 2 anos de casada, me vejo em um relacionamento frio, repleto de mágoas e tristezas. A pornografia vem destruindo meu casamento e entre tantas formas que me dispus a conversar sobre o assunto, vejo que a principal dificuldade é do homem aceitar que está errado, viciado, precisando de ajuda!

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  9. Olá, Anônima.
    Sim, é difícil fazê-los notar que são portadores de um vício e que precisam de ajuda. É difícil até para que a família aceite e tome uma atitude pois a situação é constrangedora ao extremo.
    É difícil para o homem admitir que precisa de artifícios sujos para sentir prazer e procurar alguém para então receber ajuda. E é difícil para a mulher também, pois nos sentimos humilhadas, com baixa autoestima por sermos trocadas de forma tão vil e inescrupulosa. assim, é difícil conversar ainda que com um psicólogo.
    Eu fiz como você, tentei ajudar, mas eu não suportei os mal-tratos, a estupidez, o desprezo, as noites passadas sozinha na cama e ele na sala a madrugada inteira diante do computador se masturbando.
    Faça o que você puder. Caso nada mude: ame-se! E busque ser feliz antes sozinha e depois com outra pessoa.
    Boa sorte. Coragem. E acima de tudo, muito amor por você (jamais sinta-se inferior, o problema não é você). Abraços.

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  10. Cara qué ótimo este artigo que você escreveu...eu mesmo to lutando com essa desviaçao...sou conciente do problema, medo a rejeiçao no primeiro lugar...uso e recomendo a meditaçao, penso que é o melhor metodo para limpar a mente porque o básico e fundamental é você ser conciente de você mesmo. Nao é que meu caso seja extremo mas sim incomoda, também nao sei se os meus problemas de relacionamento na hora de procurar uma parceira é por causa disso ou se é o oposto...obrigado por colocar a discussao, parabéns de novo pelo blog.

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  11. Olá, Anônimo.

    Muito obrigada pela visita, comentário e elogios.

    Boa sorte em seu objetivo de livrar-se desse vício.

    Abraços. :)

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  12. Olá Alessandra.
    Deixe seu e-mail para podermos entrar em contato.
    Obrigado ;)

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  13. Olá, Anônimo. Meu endereço eletrônico pode ser visto em meu perfil aqui no blog. Basta clicar em "ver meu perfil completo" (canto superior esquerdo do blog).
    mas, qual seria o motivo do contato?
    Abraços e obrigada pela visita.

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  Para que você saiba como você funciona na vida, basta que você se olhe no espelho. Não sabe como?

PSICOTERAPEUTA E ANALISTA CORPORAL

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Psicoterapeuta Corporal Sistêmica, Especialista Internacional em Reprocessamento Emocional, Analista Corporal, Psicoeducadora Sistêmica, Psicoeducadora Biológica.

Por onde andei...

Por onde andei eu descobri que onde vivo vai depender muito de onde meus elétrons reapareçam. Em segundos eu posso aparecer aí na sua sala e te dizer como você funcionaria melhor nessa vida só olhando o formato do seu corpo. Descobri que a felicidade é um momento vivido sem possibilidade de retorno. O máximo que você pode fazer é aproveitá-lo e esperar pelo próximo, que será totalmente diferente do último e do penúltimo e do antepenúltimo. Aprendi a admitir que tenho um vício incurável: a solidão. Então, de vez em quando eu faço uso de uma boa dose dela para viver melhor. Entendi que tenho uma paixão que não cede lugar: a Palavra. Um sentimento que, desde que existo, seja de que modo for, só tem aumentado: o surpreendimento com o ser humano. Um desejo que me inflama a alma: saber como e por que a humanidade foi criada e por que ela não pôde e continua não podendo saber a resposta. E uma única certeza: não há certeza sobre nada.