segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Sobre a Liberdade de NÃO (ter que) conviver

 



Há muito tempo nos contaram que somos pessoas livres, que temos livre arbítrio, entre outras afirmações com mesmo significado. E, com a massificação da busca por liberdade nos últimos tempos, a ideia de ser livre é um tema que enche os olhos de muitos de nós, não dá para negar.

O caso é que estudos como a Psicanálise, a Psicologia Cognitiva, a Psicologia Social, a Neurociência e vários estudiosos como Groddeck, Reich, Jung, Freud, Keleman, Libet, Sheldrake, Kahneman, Damásio, entre muitos outros, nos dizem que entre 80 e 95% de nossas decisões (de nossas vontades, desejos, atitudes, ações, impulsos) não têm nossa consciência no comando. Por conta disso, não podemos avaliar o resultado antes de agir, mas isso não nos livra do facto de termos que arcar com as consequências de nossos atos.

E arcar com as consequências daquilo que escolhemos fazer de forma quase inconsciente, sem dúvida, é a pior parte. Porque, além de não termos ciência total dos nossos atos, não avaliamos totalmente o que esses atos vão nos gerar de consequências, e ainda sofremos essas consequências inconscientes também. Ou seja, só somos conscientes mesmo da dor das consequências!


Então, onde está a liberdade?



Depois que me embrenhei pelos caminhos da Psicanálise Corporal, da Psicologia Formativa, da Teoria dos Sistemas, da Epigenética, da Teoria dos Traumas Transgeracionais, entre outros estudos relacionados à interação corpo/mente, muitos de meus questionamentos foram respondidos e, assim, muitas de minhas opiniões e pensamentos acerca da vida humana foram sendo modificadas. Boa parte dessas modificações, muito provavelmente, não terão volta, não terão retorno.

Mas, porque eu estou tratando desses assuntos todos? Porque hoje eu recebi um vídeo por mensagem. E eu vou precisar desses e de muitos outros estudos para falar sobre algumas situações que eu percebi nele. Bem, o vídeo tratava da necessidade/decisão de distanciamento da família por falta/ausência de afinidade: uma pessoa que se dizia não ter mais afinidade com os membros da família, sugeria que, quem sofresse o mesmo drama, fizesse o que ele decidiu fazer: se distanciar da família.

Veja bem, ninguém falou em maus tratos, ninguém falou em abuso, ninguém falou de desrespeito, nem de violência, enfim, ninguém falou do sofrimento de um em detrimento da atitude do outro dentro de uma família. Falou-se em distanciamento por falta de afinidade.

De forma alguma eu estou desconsiderando situações em que uma pessoa precisa tomar distância dos familiares porque a convivência com eles lhe traz algum dano. O caso é que as redes sociais e o prazer imediato tem reduzido absurdamente a nossa tolerância. Por conta disso, o vídeo em questão me fez pensar em egoísmo, egocentrismo, falta de autoestima, falta de amor-próprio, de auto aceitação, vitimismo, falta de coragem de encarar o mundo após fazermos a nossas escolhas, arrogância, prepotência... Mas, principalmente, eu pensei que somos influenciáveis demais para sermos livres.

Eu comecei esse texto porque alguém disse no vídeo que via os membros da família como diferentes dele, e que a solução para isso era se distanciar. Bom, se a minha família é diferente de mim, isso me torna diferente da minha família, nos tornando todos diferentes. E aí eu pergunto: que mal existe em ser diferente? Será que estamos esquecendo que é graças ao diferente que nós existimos?

Se o problema é esquecimento ou falta de consciência, então deixa eu relembrar: você existe porque o seu pai, uma pessoa completamente diferente da sua mãe, se uniu a ela e, dessa união, nasceu você. E assim foi com todos os outros seres humanos na terra. Essa união do diferente começou com nossos ancestrais, sabe-se lá quanto tempo atrás até chegar a nós, os “diferentões do século XXI”, que resolveram agora que, por serem diferentes, já não podem conviver com outros diferentes.


E vamos conviver com quem, se somos todos diferentes uns dos outros?



Ou você não se deu conta de que não existe ninguém igual a você no mundo? Não existe, não existiu e nem irá existir.

Será que o nosso desejo de exclusividade é tão grande assim? Tão grande que nos venda os olhos para os que deram origem a essa vida exclusiva? Se você é tão exclusivo, afinal, é graças a quem? Graças a quem, hoje, você precisa se distanciar porque não tem o quê? Afinidade... E desde quando uma árvore não tem afinidade com a própria raiz?


Sabe o que nos faz arrogantes assim? O medo!


O medo de não ser validado, acolhido, considerado, concordado, escolhido, amado, ouvido, entendido, aceito... O desejo de ser aprovado nos guia em nossas escolhas. Nossos traumas nos fazem carentes de aprovação. E, se não somos aprovados, considerados, vistos, nós fazemos o quê? Nos distanciamos. E, com os olhos só em nosso próprio umbigo, vamos em busca de quem nos enalteça.

Só que, se estamos buscando tudo fora, é porque não existe dentro. Quem sofre à espera de ser valorizado ainda não aprendeu a dar valor a si mesmo, por isso depende do valor, do amor, da consideração do outro.

O imediatismo da vida moderna e das redes sociais estão nos fazendo menos tolerantes, impacientes, procrastinadores, distraídos, com atenção seletiva e desejosos de prazer imediato... Conviver com a família só vale a pena por aquele tempo no estúdio fotográfico para as fotos de fim de ano que serão postadas nas redes sociais para obter um pouco mais de prazer imediato por meio dos likes recebidos.

Se você não reconhece a própria exclusividade (que é óbvia, porque não existe ninguém como você, portanto, todos os outros são diferentes), você vai passar a vida buscando quem te enalteça, quem concorde com você, quem se vista igual para que você se sinta validado, quem concorde com as suas opiniões... Daí passa a vida querendo que alguém te enxergue em função da própria incapacidade de se enxergar. Vai ficar buscado grupos por afinidade, mas, ainda assim, perdido, porque uma árvore pode até se livrar dos galhos, mas não tem vida sem suas raízes.

Sua origem é você porque você é sua origem. Então, antes de dizer que não existe afinidade, que o assunto não flui... Observe se o problema não é você, querendo ser visto, aceito, olhado, escolhido, validado, querendo ser pejorativamente exclusivo (o alecrim dourado da história), mas sem olhar para ninguém.

Aproveite a existência de sua origem e vá descobrir quem você é. Há mais de sua origem em você do que pode sonhar o seu individualismo. Se você não consegue conviver com sua família por falta de afinidade, afine-se antes com você.


"O que negas te subordina, o que aceitas te transforma", (Carl Gustav Jung).


Será que você é livre para decidir não conviver com a sua família? Ou está sendo levado pela necessidade de ser exclusivo, de receber likes nas redes sociais, ou pela vontade de ser considerado "resolvido" porque deixou a família e foi morar sozinho?

A sua família é diferente e por isso tem que ser deixada.

Já você, porque é diferente, tem que ser ouvido, olhado, aclamado, considerado. Do contrário, você se distancia.

Que lógica é essa?





quinta-feira, 9 de junho de 2022

Pai e Mãe Ausentes...

 



A chamada Evolução da Humanidade tem trazido algumas mudanças estranhas (é preciso admitir). Dentre elas, se pode citar a organização da rotina das famílias e também a estrutura das famílias. E, como consequência dessas mudanças, o ato de criar os filhos que colocamos no mundo tem deixado de ser uma obrigação e tem passado a ser um desafio.


O caso é que,

quinta-feira, 14 de abril de 2022

A sua "realidade e a "realidade" do outro

 




Quando você desejar ser compreendido...

Quando quiser ter aceita a sua opinião...

Quando buscar por empatia em relação a sua dor...

Quando quiser impor a sua forma de fazer o que quer que seja...

Lembre-se de que:

domingo, 3 de abril de 2022

Pedaço da minha alma que se fez carne e pôs-se no mundo

 

"Mãe, olha! O Abaporu da Tarsila!"
Das surpresas que pode te proporcionar um filho. Nesse caso, o meu, aos 4 anos.



(texto escrito depois de assistir o vídeo sobre filhos e paternidade do Programa Papo de Segunda, com Fábio Porchat, Emicida, Francisco Bosco e João Vicente - link abaixo)



A frase que dá título a esse texto eu criei enquanto convivia com meu filho nos primeiros meses de vida dele. Eu criei a frase por causa da minha necessidade de nomenclaturar a gigantesca avalanche de sentimentos e emoções que surgiu em mim com a chegada dele na minha vida. 

Na frase ficou implícito não só o amor desmedido, não só o apego, a necessidade de aproximação, de proteção, mas também todo o desespero da impossibilidade de controle sobre um pedaço que é parte de você, mas não é você. 

 

Filho é um pedaço de você que vai pro mundo e você não tem nenhum controle sobre ele. 

 

Se eu tivesse começado a estudar Psicanálise antes de ser mãe,

domingo, 12 de dezembro de 2021

O Inconsciente desde Freud aos dias de hoje



Mesmo sendo tachado de herege, Sigmund Freud (1856-1939) reafirmou a existência do inconsciente e também que os nossos processos conscientes não passam de atos isolados.



Carl Gustav Jung (1875-1961) disse que

Sobre a Liberdade de NÃO (ter que) conviver

  Há muito tempo nos contaram que somos pessoas livres, que temos livre arbítrio, entre outras afirmações com mesmo significado. E, com a ma...

PSICOTERAPEUTA E ANALISTA CORPORAL

A minha foto
Psicoterapeuta Corporal Sistêmica, Especialista Internacional em Reprocessamento Emocional, Analista Corporal, Psicoeducadora Sistêmica, Psicoeducadora Biológica.

Por onde andei...

Por onde andei eu descobri que onde vivo vai depender muito de onde meus elétrons reapareçam. Em segundos eu posso aparecer aí na sua sala e te dizer como você funcionaria melhor nessa vida só olhando o formato do seu corpo. Descobri que a felicidade é um momento vivido sem possibilidade de retorno. O máximo que você pode fazer é aproveitá-lo e esperar pelo próximo, que será totalmente diferente do último e do penúltimo e do antepenúltimo. Aprendi a admitir que tenho um vício incurável: a solidão. Então, de vez em quando eu faço uso de uma boa dose dela para viver melhor. Entendi que tenho uma paixão que não cede lugar: a Palavra. Um sentimento que, desde que existo, seja de que modo for, só tem aumentado: o surpreendimento com o ser humano. Um desejo que me inflama a alma: saber como e por que a humanidade foi criada e por que ela não pôde e continua não podendo saber a resposta. E uma única certeza: não há certeza sobre nada.